Há coisas que apenas uma mãe compreenderá.
Há maturidade e transformação que só uma mãe atingirá.
Digo isto com toda a certeza que me compete, pois até há há pouco tempo atrás acreditava que sabia e entendia muito da vida, sobretudo da vida e psique feminina.
Após alguma resistência interna, o universo entendeu que já chegava de adiar o inevitável.
A minha filha nasceu quando eu já contava 40 anos.
Pensei que seria mais uma experiência de vida, que de facto me completaria como mulher.
Estava longe de desconfiar que seria muito mais que isso.
Depois de alguns anos a fazer trabalho terapêutico em mim,
pensava ter resolvido a maioria dos meus conflitos e acreditava conhecer-me profundamente.
Passei a trabalhar ajudando outras pessoas a se conhecerem melhor e dei conselhos absurdos
a mulheres mães, desconhecendo por completo o enorme desafio que essa árdua tarefa acarretava.
Dei palpites sobre como educar corretamente os meus sobrinhos.
Critiquei dezenas de mães, desde amigas a desconhecidas com quem me cruzava
em jardins ou supermercadose lidavam com birras ou maus comportamentos dos filhos.
Dava dicas sobre a importância de manter a relação de casal e não pensar apenas nos filhos…
Nem desconfiava… meu Deus… como é difícil ser mãe. Como é difícil ser mulher-mãe.
Tudo em nós se transforma a uma velocidade vertiginosa que é quase impossível de acompanhar.
A nossa psique quebra-se toda desde a altura do parto quando em questões de horas
a nossa identidade muda de mulher para mãe sem pedir licença.
E a partir daí é sempre a abrir.
Não conheço convite à transformação mais profunda, rápida e contínua do que esta.
E vai durar para Sempreeeee.
“Ter um filho é como fazer uma tatuagem na cara” – ouvia num filme há 2 dias atrás.
Não há volta a dar.
Fragilizamos e fortalecemos,
Enlouquecemos e alegramos,
Enraivecemos e perdoamos.
A dança entre polaridades opostas é estonteante,
e tudo isso vai-nos curando, mostrando o que ainda não está equilibrado em nós.
As feridas mais profundas da nossa infância ficam escancaradas
e esse filho que tanto amamos e tanto nos tira do sério, vem servir de espelho
mostrar todos os pormenores menos bonitos dos nossos coportamentos que se encontravam bem escondidos.
E tudo com um único propósito: CURA DE NÓS MESMAS
Se este trabalho for feito com consciência, ainda acontece outra coisa fantástica.
Começamos a curar a relação com a nossa mãe.
A perdoar-lhe todas as falhas, as faltas de paciência, a falta de tempo para nós
a falta de entendimento, a falta de valorização, tudo o que sentimos que faltou,
pois ela se encontrava num processo difícil e idêntico ao nosso.
Depois de 4 anos de maternidade, estou mais madura, mais paciente, mais consciente.
Depois de 4 anos de maternidade de uma única filha, já com a maturidade dos 40 anos
entendo a minha mãe que com 23 anos já tinha 3 filhos com diferença de 4 anos entre o primeiro e o terceiro.
Percebo todos os gritos, a falta de paciência, a carga excessiva colocada em mim por ser a mais velha.
Nem imagino como ela se estaria a sentir por ter que cuidar de 3 crianças sozinha
enquanto ela própria ainda era uma criança.
Como esta minha mãe existem milhares de mães que viveram situações MUITO mais adversas que a minha
e sobreviveram a muito custo. Hoje, já velhas podem estar desgastadas e amargas.
Se apenas nos pudéssemos colocar no lugar delas por um minuto…
Existe algo muito profundo de resiliência numa mãe, que apenas outra mãe irá entender.
Aproveito este dia para prestar homenagem à minha querida e resistente mãe por tudo o que aguentou
e que no seu melhor fez um bom trabalho connosco.
Aproveito este dia para prestar homenagem a mim mesma,
pela coragem que tenho tido de atravessar todo o desconforto interior e exterior necessário à minha cura.
estando sempre focada no bem estar e necessidades da minha filha.
Aproveito este dia para prestar homenagem a todas as mulheres mães do mundo.
Guerreiras sem espada, usando o sempre escudo do AMOR
Cristina Gonçalves – Terapeuta, Coach e Formadora