A escassos dias do fim do ano, mais um ano de vida, mais um ano de aprendizagem e crescimento, é impossível não entrarmos num estado de reflexão sobre o que foi e como correu o ano de 2013. O que conquistamos, o que nos derrubou, o que nos fez chorar, o que nos fez sorrir… Pessoalmente, tendo atingido este ano a idade marco dos 40 anos, a qual segundo os alguns sábios e populares traz consigo uma crise existencial, a chamada “crise da meia-idade”, confesso que me encontro num estado mais contemplativo em relação ao que quero daqui em diante.
Apesar da minha vida interior e exterior ter começado a ser «arrumada» desde 2006, e me encontrar num estado de satisfação bastante elevado com tudo o que conquistei interna e externamente, não fiquei imune a esta tão mal entendida crise da meia-idade. Questionamentos, observações, ponderações, dúvidas, incertezas. Somos invadidos por uma série de sentimentos e emoções vindos do nada, e cujo único objetivo é fazer-nos aproximar do que for mais verdadeiro e autentico para a nossa alma. Estamos sempre a mudar de quem fomos para transformar-nos em quem poderemos ser, e é precisamente numa dessas fases que me encontro agora, mais uma vez…
A minha rotina diária inclui ler logo de manhã, antes de começar o dia, um dos versículos do Tao Te Ching. A tarefa inclui a reflexão e absorção do ensinamento, fazendo o possível por aplica-lo nesse dia, em todas as situações com as quais me depare. O Tao Te Ching é um livro cheio de sabedoria escrito por Lao Tsé, um mítico filósofo Chinês que terá vivido no século IV a.c. Este é o livro mais traduzido no mundo, com exceção da Bíblia, e muitos ao longo destes séculos interpretaram os sábios ensinamentos de Lao Tsé. O livro que estudo foi escrito e interpretado por Wayne Dyer.
O Tao Te Ching contém 81 versículos, mas há um em particular que nesta fase da minha vida me tem trazido muito ensinamento, e que considero ser ensinamento fundamental para qualquer ocidental a viver nesta cultura acelerada e desconectada dos ciclos naturais, da própria natureza.
O versículo 29 diz:
“Acreditas que podes controlar o mundo e melhora-lo?
Não acredito que seja possível.
Se o tentas controlar, o irás arruinar.
Se tentas afasta-lo o irás perder.
Permite que a tua vida se desenvolva de forma natural.
Ao igual que inalamos e exalamos,
Há um momento para estar à frente
E um momento para estar atrás;
Um momento para mover-se
E um momento para descansar;
Há momentos de vigor
E momentos de esgotamento;
Momentos em que estamos a salvo
E momentos em que estamos em perigo.
Para sábio a vida é um movimento rumo à perfeição”
Através deste ensinamento tenho aprendido e integrado que há um tempo para tudo. Há um tempo para as árvores darem flor, depois darem fruto. Há um tempo para perderem as folhas e um tempo para ficarem cobertas do branco da neve. Nenhuma fase é pior ou menos importante que a outra, apenas diferente.
Quantas vezes corremos atrás da aceleração e exigência do quotidiano, um ano inteiro, uma vida inteira e depois queixamo-nos do cansaço, da irritação, da falta de tempo.
Quando nos sentir-mos com menos energia e cansados ou esgotados, lembremo-nos do versículo 29 – há um tempo para tudo, até para estar cansado. E assim como as árvores se permitem ficar despidas no inverno e, nada fazer até chegar a primavera, assim devemos fazer nas alturas em que o corpo e a mente pedem encarecidamente o merecido descanso.
Quanto à preocupação do que este abrandamento poderá ter na nossa vida quotidiana: trabalho, carreira, finanças, família, etc, apenas lembra-te do início do versículo: “…Se tentas controlar o mundo irás arruiná-lo…”. Se te deres o tempo para descansar e refletir, com certeza chegará o momento de entrar em ação e trabalhar, e esse é outro dos ensinamentos de Lao Tsé, apenas FLUI e CONFIA.
Cristina Gonçalves