fbpx

garden-3084017_1920

O FRUTO VERDE.

Conta a história que havia um viajante, um ser como qualquer outro que decidiu empreender uma viagem exterior. Uma viagem sem rumo nem destino, apenas com objectivo de encontrar alguma paz interior. Uma viagem para encontrar a sua Verdade.

Percorreu muitas cidades e povos, culturas e civilizações. De cada uma delas deixava algo de si e trazia um bocadinho deles. Isso enriquecia-o e levava-o a crescer cada vez mais na sua busca interna.

Numa das povoações encontrou um mestre sufi, dizia-se que era das pessoas mais sábias que alguma vez se tinha visto. Teve o privilégio de conversar horas e horas com este sábio, e explicar-lhe o objectivo da sua viagem e as conquistas que já tinha conseguido até a altura. O mestre sugeriu-lhe que se dirigi-se para norte, pois iria ter a oportunidade de encontrar árvores de fruto jamais vistas. Árvores frondosas, de copas gigantes e sombras esplendorosas. Mas o mais fantástico destas árvores eram os seus magníficos e suculentos frutos. Garantiu o mestre que jamais provara nada igual. Estas árvores cresciam em terra sagrada o que fazia dos seus frutos um manjar nunca antes experimentado. No entanto, fez uma referência muito importante: apesar de todas as árvores darem frutos magníficos, havia uma que não tinha comparação, o fruto daquela árvore era deveras especial e único. Já que se dirigia para tão longe valeria mesmo a pena provar o fruto desta árvore em especial. Era uma árvore que se distinguia das outras pela sua altivez, grandiosidade e formato fora do comum, ele haveria de reconhecê-la mal a visse…

O viajante seguiu caminho para Norte conforme sugerido, muito empolgado com o que haveria de encontrar nesse sítio sagrado e no fruto que provaria dessa árvore única. Dizia-se que quem tivesse a sorte de provar esses frutos experimentaria a felicidade e paz eterna, e era isso que o viajante mais desesperava em encontrar. Depois de caminhar durante dias e dias, finalmente chegou a esse mágico sítio, de facto nunca tinha sentido nada assim, a energia da união dessas árvores inundava o vale onde se encontravam, transmitindo uma sensação de paz profunda. Percebeu logo qual era a árvore especial, pois claramente se destacava das outras. Sentiu um arrepio de emoção e correu até à mesma, sentido quase o sabor daquele fruto magnífico que tanto ouvira falar. Prostrado frente à árvore, não podia acreditar no que via. Os frutos estavam todos verdes, nem um estava no ponto ideal de ser comido…como é que o sábio o tinha enviado até esta árvore sabendo que não poderia provar o fruto??? Porque lhe tinha criado tanta ilusão, para depois cair numa desilusão profunda???

Sentou-se debaixo da mesma e acalmou um pouco, pensou e tornou a pensar. Qual seria o ensinamento? O que deveria fazer? Decidiu que se tinha sido enviado e a viagem tinha sido tão longa, não partiria sem provar o tal fruto, mesmo estando verde, este era um fruto muito especial para ser desperdiçado…

Colheu um dos frutos da árvore e trincou com toda a vontade que trazia acumulada de dias e dias de viagem, de longa caminhada e expectativa. O que se seguiu não se conseguia explicar por palavras… ninguém tinha presenciado algo assim… o amargo do fruto era de tal ordem que o viajante caiu duro no chão. Todo o seu corpo amargara e tornou-se rígido. Pensou-se que esse corpo nunca mais recuperaria de tal choque, que este teria sido o ultimo fruto que o viajante, que procurava a sua verdade iria provar em vida.  Afinal teria valido a pena tanta procura e persistência!!!??? levou algumas horas mas conseguiu recompor-se, levantar-se…e, por fim,  tentar perceber o que tinha acontecido. Pensou e voltou a pensar, afinal pensar era algo que ele conseguia fazer muito bem e no estado debilitado que se encontrava, era de facto a única coisa que ele conseguia fazer na perfeição. Chegou à sua conclusão:  Não adianta experimentar o fruto do paraíso se este ainda não estiver pronto para ser comido. A sua textura, paladar e vitaminas ainda não estavam concluídos, e não podiam ser aproveitados. Estava em fase de crescimento e apenas quando estivesse pronto poderia proporcionar os benefícios tão falados por todas as aldeias e sábios…

“Tudo tem um tempo certo e não adianta acelerar o processo, até pelo contrário, contrariar o ciclo natural e acelerar o processo envenena” exclamou o viajante, este era o grande ensinamento…

Olhou em redor e percebeu que existiam outras árvores com frutos já maduros e suculentos, prontos a ser colhidos. Dirigiu-se a uma delas, sem escolher muito pois todas pareciam iguais, provou o fruto e descobriu o manjar dos Deuses!!!!Sentiu uma felicidade profunda!!!

O viajante nunca soube qual seria a diferença entre o fruto maravilhoso que teve o privilégio de provar e o da árvore especial, mas sabia que acima de tudo tinha que adaptar-se às circunstâncias externas do bosque e deixar-se fluir com aquilo que a natureza lhe estava a oferecer…

Esse era o grande ensinamento. Aceitar, esperar e desfrutar o momento.

Cristina Gonçalves – Terapeuta, Coach e facilitadora

error

Gostou? Partilhe!