SOLIDÃO COMO MEIO DE TRANSFORMAÇÃO
Após 40 anos de jornada por esta vida, considero que já percorri o equivalente a meia existência para uma grande parte das pessoas.
Estou mais madura, menos impulsiva e emocional, mais ponderada e sobretudo mais experiente.
Na sequência de muitas experiencias vividas das mais variadas espécies e feitios, chego a conclusão que a maior parte da nossa vivência é passada em solidão. Estamos sós com os nossos pensamentos, com as nossas emoções, com as nossas tristezas e preocupações. Isto tudo porque, uma das conclusões mais dolorosas de todas é que mais ninguém nos pode compreender na totalidade e acima de tudo, mais ninguém nos pode ajudar a ultrapassar os nossos maiores desafios e crises existenciais.
Apesar de sermos seres interdependentes e precisarmos dos outros para partilhar, crescer e amar, o verdadeiro crescimento interior é muito solitário. Cada ser humano tem uma alma única, que deve vivenciar situações únicas. Podemos receber muita ajuda para compreensão e alívio de “sintomas de crescimento interior” através de uma palavra amiga, de um livro ou de um curso. Mas a verdadeira transformação que a nossa alma exige apenas acontece no isolamento connosco próprios. Não adianta exigir dos outros que nos ajudem ou compreendam, eles não estão na nossa “pele” e portanto nunca sentirão da forma como nós estamos a sentir, os desafios que a vida nos coloca a cada dia.
Esta constatação não é fácil para a maioria das pessoas. Muitos de nós já se sentem tão sozinhos mesmo quando acompanhados, que a última coisa que querem vivenciar é mais solidão. Mas o caminho da transformação é esse mesmo. No final estaremos sós connosco próprios, com as nossas sombras e maiores medos. A única coisa que podemos decidir é se o queremos atravessar esse vale escuro ou fingir que nada se passa, procurando conforto externo onde nunca o iremos encontrar plenamente.
Se tivermos coragem de enveredar por esta escura jornada do isolamento interior, mais cedo ou mais tarde iremos descobrir, que essa solidão é uma ilusão. No silêncio dos nossos pensamentos e na quietude do nosso pranto, descobrimos a companhia de nós mesmos, da parte mais sagrada e sábia da nossa alma. Descobrimos que além desta parte sagrada, estamos acompanhados pelo nosso grupo de almas noutra dimensão. Um grupo de seres que estão constantemente atentos e disponíveis para ajudar-nos, como se fossem anjos da guarda e que nunca nos abandonam, apesar de não os podermos ver.
No resguardo do silêncio, introspeção e solidão, entramos em contato com esta outra dimensão mais profunda, mais REAL, mais útil para o nosso crescimento interior. No início assusta, mas com o tempo vamos percebendo que é o único meio de chegar à plenitude total.
Ao longo dos anos vou percebendo cada vez mais que, a verdadeira companhia reside dentro de mim. Que esperar de pessoas ou coisas a nutrição e compressão que elas não têm capacidade de dar, gera uma grande dor e frustração.
Percebo que a maior força interior é descoberta no meio do processo mais difícil e, que a pouco e pouco vou resgatando cada vez mais bocados da minha essência que se foram perdendo durante o caminho desta existência terrena.
Fico mais inteira, mais forte, mais responsável por mim mesma, e isso afasta-me da dependência do outro para ser feliz. É um caminho fácil? Nem pensar… É um caminho rápido? Nunca será… Mas posso garantir que vale bem a pena investir num processo que irá ajudar-te a “Recordares quem és. Viver a tua Verdade. Seres tu mesmo em todo o teu esplendor”
Cristina Gonçalves
Muitos parabéns Cristina!
Este artigo está…de se tirar o chapéu ou fazer uma vénia, como queiras. Sem querer diminuir todos os outros que também são muito bons mesmo, tens apesar de tudo alguns que se destacam e este é um deles. Digno de ir para a vitrine…
Fico espantado mas também desolado por constatar que sou o único (até agora) a comentá-lo. Parece que as profundas verdades que expões de forma exemplarmente simples e com grande mestria, mesmo assim, estão longe de estar alcance da maioria para as poderem apreciar devidamente… é confrangedor mas é a realidade.
Continua, que vais no bom caminho. 🙂
Parabéns pelo belo artigo Cristina.
Até hoje não tinha lido nada tão arrebatador, que resumisse grande parte da essência que é essa passagem que chamamos de “vida”. Concordo plenamente com você. Este tem sido meu principal lema nestes últimos anos: Eu tenho que ser minha melhor companhia.” E tenho dito muito isto a meus mais estimados amigos. Não adianta lançar sobre outra ou outras pessoas a árdua e impossível missão de me completar. Isso só cabe a mim. Eu tenho que ser minha melhor companhia. Esse processo, como você disse, não é rápido, nem fácil. Mas é o único caminho pra se alcançar plenitude. Hoje, depois de muitas insuportáveis solidões, aprecio e muitíssimo, minha companhia.
Abraços e que você continue contribuindo pra esse crescimento existencial através dos seus textos.