Tudo é cíclico. Queremos acreditar que a vida e o tempo seguem um comportamento linear, mas volta e meia deparamo-nos com o retorno de um sentimento, comportamento, vivência… e tudo volta a acontecer mais ou menos da mesma forma que já tinha acontecido.
E assim, estou eu de regresso à escrita que tanto me expande, cura e me ajuda a partilhar com outros estes mistérios da vida. E tal como a natureza que se recolhe no outono para hibernar no inverno de modo a poupar energia para renascer e florescer na primavera, recolhi durante quase um ano para me dedicar ao papel de mãe. Confesso que não por iniciativa própria, mas por força da tal natureza que assim ditou que fosse.
Sendo uma pessoa proactiva e com paixão por aprender e partilhar, dificilmente tinha facilidade em parar a mente. Parar o corpo e o fazer sempre foram relativamente fáceis e necessários para mim, mas parar os pensamento, as ideias, os sonhos parecia quase impossível. Quis então a tal natureza arranjar uma forma de o conseguir e fui empurrada em direção a mais uma experiência nova – a Maternidade.
Depois de 9 meses a focar, meditar, planear e praticar todas as dicas para uma gravidez e parto o mais natural e tranquilos possível, de modo a poder levar essa energia de paz para este novo bebé, acreditei que esta criança seria o exemplo da paz, tranquilidade e equilíbrio, mas a realidade foi um “pouco” diferente. Esta criança decidiu vir cheia de vida e energia, curiosa e ávida por beber todas as experiências novas deste mundo, e consequentemente, não estando muito inclinada para dormir nem estar em estado de serenidade durante muito tempo.
Resultado: 11 meses constantes de noites onde não durmo mais de 3 horas seguidas (na melhor das hipóteses) e um cansaço mental constante que me impossibilita de pensar, criar e ter demasiadas ideias sobre seja o que for. Apenas me resta, parar para não pensar e apenas sentir a vida. Depois destes longos meses neste novo estado, percebi que aprendi a estar de outra forma menos acelerada e estressada na vida, e de facto confiando na sabedoria da natureza e dos ciclos da vida tenho-me transformado numa nova pessoa mais confiante e serena, sem pressas para atingir seja o que for, e sem a ilusão de que controlo seja o que for neste mundo gerido por leis superiores.
E tal como os ciclos da natureza, chegou a minha primavera novamente – florir e renascer – sabendo que as folhas e flores que vejo surgir na minha “árvore” parecem iguais às do ano passado mas na sua essência são completamente diferentes. A árvore fortaleceu as suas raízes e tronco, com a escuridão e chuvas do inverno e agora floreste de forma mais forte e estruturada.
E o convite é esse mesmo, abraça o teu inverno, recolhe, aprende, limpa e renasce com mais força, sabendo que chegará novamente outro outono e inverno para a tua alma que te parecerão sombrios e intermináveis, mas saberás que a primavera inevitavelmente chegará, porque a vida é cíclica e segue SEMPRE o ciclo da natureza.
Cristina Gonçalves
Simplesmente brilhante o nível de consciência e aprendizagem com o que a vida traz.
Aprendemos com o que há, com o que vem. E o que vem, apesar de tudo, é a perfeição que numa outra faceta sempre nos fascina com a sua beleza. Assim é a vida!
Amo-te