A dor como caminho para a verdade.
Ao longo dos meus dias estou em constante contacto com várias pessoas (inclusive eu própria), formandos, pacientes, amigos, familiares, e deparo-me com a dificuldade de lidarmos com a dor que muitas vezes nasce dentro de nós, e que chega sem pedir licença…
Permitam-me por isso, lembrar um pequeno texto de Osho:
“A tua dor é a rutura da carapaça que encerra o teu entendimento. Assim como a semente de um fruto deve romper-se para que o seu núcleo possa expor-se ao sol, assim tu deves conhecer a dor. E se pudesses manter o teu coração maravilhado perante os milagres diários da tua vida, a tua dor não te pareceria menos maravilhosa que a tua alegria. E aceitarias as estações do teu coração, assim como sempre aceitaste as estações que passam sobre os campos. E observarias com serenidade através dos Invernos do teu sofrimento.”
OSHO
O que o autor fala é da inevitável dor que surge quando dentro de nós quebramos a carapaça que nos protege do sofrimento, mas que também nos impede de viver o amor. A carapaça que utilizamos ano após ano para evitar que nos magoassem novamente, mas que ao mesmo tempo nos impediu de sermos nós próprios.
Chega então uma altura na nossa vida, em que a nossa alma não aguenta mais ser sufocada por essa carapaça rígida, sem vida e, decide começar a parti-la de dentro para fora. Este processo também pode ser chamado de “individuação”, palavra utilizada por Carl Jung.
O processo é doloroso, pois temos de deixar cair máscaras que utilizamos durante muito tempo para fingir que estava tudo bem. É doloroso pois deparamo-nos com a verdade de que afinal o que tinha ocupado o nosso tempo e interesses no passado, deixou de ter importância e interesse no presente. Dói perceber que a vida que construímos muitas vezes não passa de uma ilusão, e que o emprego que temos não era o que queríamos ter, que a pessoa que está viver connosco não era quem precisávamos ter ao nosso lado, e que afinal de contas andamos a enganar-nos a nós mesmos durante tanto tempo.
Nesse momento percebemos que apesar de termos feito tudo o que parecia ser certo, continuamos infelizes. Percebemos que tudo o que vem do exterior não nos preenche como acreditávamos que faria, e percebemos que apesar de estarmos rodeados de pessoas, sentimo-nos extremamente sozinhos. E por que?
Porque o maior erro que cometemos ao longo deste período que chamamos VIDA foi… perder-nos de nós próprios.
Deixamos de ser quem deveríamos ser. Deixamos de fazer o que gostaríamos de ter feito, e vivemos na expectativa da sociedade, do que os outros esperam de nós sem nos perguntarem se concordamos.
A dor da quebra da carapaça é uma bênção, pois é o sinal de que algo falso se começa a quebrar para dar lugar ao verdadeiro.
É fácil? nem por isso…
É necessário? sem dúvida…
Valerá a pena passar por essa dor? só tu o podes decidir…
Queres a verdade ou preferes continuar a viver na ilusão?
Cristina Gonçalves