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No artigo anterior falei da questão da depressão generalizada que caiu sobre todos nós, para concluirmos que afinal “Não estamos deprimidos” e sim algo perdidos e à procura de um novo rumo. Está magnífica parábola mostra claramente o que se passa dentro da maioria de  nós, nestas fases de mudanças interna e externas, de transformação profunda rumo a uma nova e mais equilibrada realidade.

David, o Índio

Havia um índio chamado David que vivia numa ilha.

A ilha onde David vivia era boa e nela reinava a abundância. David pertencia à linhagem real da ilha, pois o seu avô era o chefe. David tinha uma vida maravilhosa na ilha: havia abundância de alimentos e eram muitas as coisas que cresciam e se podiam comer. O povo e a tribo de David viveram bem durante muitos, muitos anos.

Porém, a ilha estava rodeada dum estranho fenómeno, pois havia um grande banco de nevoeiro, muito espesso, que a rodeava a 5 quilómetros da costa. Esta névoa rodeava completamente a ilha, mas, como nunca se acercava da costa, o clima na ilha era geralmente soalheiro e claro. A névoa mantinha-se sempre à mesma distância, ano após ano, como um sinal ameaçador, e nunca ninguém tinha podido ver para lá dela. David cresceu com esta névoa, assim como aqueles que viviam no povoado, geração atrás de geração.

Não a compreendiam, mas temiam-na, posto que, de vez em quando, alguém ia até ao nevoeiro e nunca mais voltava. David recordava-se que, quando era criança, um ancião da tribo que se encontrava prestes a morrer, decidiu meter-se na sua canoa e dirigir-se para a névoa.

Contavam-se muitas histórias acerca do que aconteceria a quem fosse ao nevoeiro, e a maioria delas relatavam-se à noite, à luz das fogueiras.

Aos habitantes do povo foi ensinado que se alguém decidisse ir ao nevoeiro, o resto das pessoas devia meter-se nas suas casas, e não olhar! Bem, havia um grande temor por este nevoeiro. Mas David, pertencendo à realeza, pôde observar estes acontecimentos ao lado dos anciãos, quando era criança, e também mais tarde, quando adolescente. Mas o único  acontecimento que recordava verdadeiramente, era aquele do ancião dirigindo-se ao banco de nevoeiro, e que, tal como se esperava, nunca mais voltou. Era, tal e qual, como diziam os antigos: “Quem se aventura no banco de nevoeiro, nunca mais regressa”. E aqueles que pertenciam à linhagem real ficaram muitas horas a observar a névoa, depois que o ancião desaparecera nela, à espera que sucedesse aquilo que se tinha dito que aconteceria. Frequentemente, ao fim de algum tempo, escutavam um gigantesco ruído apagado, um som terrível que provocava o temor nos seus corações, um rugido apagado que não podiam compreender.

David recordaria como soava esse ruído pelo resto da sua vida.

Quem sabe o que poderia ser? Talvez um monstro, que se encontrava do outro lado do banco de névoa?

Talvez o som de um torvelinho ou duma cascata gigante que cobrava as vidas daqueles que se aventuravam a atravessar? Assim, pode parecer estranho que David, nos seus 34 anos, tomasse a decisão que tomou, mas ele sentiu-se atraído pelo nevoeiro. Teve a sensação de que havia algo mais na sua vida que se estava a perder. Talvez fosse uma verdade que estivesse adormecida há anos, e talvez a névoa fosse a resposta. É verdade que ninguém tinha regressado, mas isso não significava que tivesse morrido. Então, sem dizer nada aos anciãos nem aos habitantes do povoado, David dispôs-se corajosamente a ver o que havia do outro lado do banco de nevoeiro. Entrou na sua canoa lentamente e realizou uma cerimónia pelo que se dispunha a fazer. Deu graças a Deus pela sua vida e pela revelação do que viria. Sabia que, à margem do que lhe sucedesse, teria ao menos o conhecimento. E era isso que o impulsionava a fazê-lo.

Assim, pois, David remou silenciosa e suavemente até ao banco de névoa. Ninguém o viu, pois não anunciou o que ia fazer. Em breve se encontrou nas cercanias do banco de nevoeiro, e ia-se aproximando cada vez mais. Então, notou uma coisa estranha: nunca ninguém tinha estado tão próximo da névoa, para observar algo assim, mas ela parecia que o atraía para si. Começou a dominar o medo ante este facto surpreendente. David já não necessitava do remo, e assim colocou-o dentro da canoa, que desapareceu no nevoeiro. Tudo ficou cada vez mais escuro. Então, David começou a reconsiderar o que havia feito: “Sou um homem jovem, traí os meus antepassados, pois sou de linhagem real e decidi fazer uma loucura”. Agora estava aterrado, e o temor desceu sobre ele como um manto de morte. A negrura começou a penetrar no seu cérebro, estremeceu de frio e de emoção, enquanto a canoa deslizava suavemente para a frente.

David permaneceu no banco de névoa durante horas. Parecia que aquilo nunca mais tinha fim. Acobardou- se na sua canoa, pois sabia que tinha cometido um erro. E se isto nunca mais muda? – perguntou a si mesmo. E se estou aqui por toda a eternidade e morro de fome nesta canoa?

David teve rapidamente uma visão atemorizante, na qual os que tinham partido antes dele se encontravam agora flutuando eternamente nas suas canoas, fazendo círculos ao redor da ilha, como esqueletos na névoa escura. Poderia ver o ancião de há anos atrás? Poderia alterar alguma coisa, alguma vez?

– Oh, onde está a verdade que busco? – gritou David em voz alta para a névoa.

Então aconteceu. David saiu para o outro lado do nevoeiro… e ficou assombrado com o que viu! Diante dele havia um continente inteiro, cheio de gente e de povoados até onde era possível enxergar. Pôde ver fumo saindo das chaminés e escutou as pessoas a tocar, nas praias. Havia vigias colocados ao longo do banco de nevoeiro, que o viram imediatamente. Ao vê-lo aproximar-se, fizeram soar as suas trompas para fazer saber, aos que estavam na costa, que outro valente tinha cruzado a névoa. Então, David ouviu um clamor gigantesco procedente da terra. Um clamor de celebração! Um clamor de honra! Rodearam-no com as suas canoas e lançaram-lhe flores. Ao chegar à praia, aproximaram-se dele, ergueram-no, levaram-no em ombros, e celebraram a sua chegada através da névoa. Nesse dia, David, o real, começou uma nova e próspera vida.

Comentário final do escritor (Lee Carrol)

E agora é possível que vocês digam: “Já sei de que fala esta parábola. Sobre a morte, não é verdade?”

Não, não é assim.

Esta parábola fala da chegada da Nova Energia e, inclusive, da ascensão. Também fala de estar satisfeito com o nosso pequeno grupo e de nunca nos aventurarmos a sair dele (zona de conforto), devido à névoa da falta de familiaridade. Fala daquilo que está diante de vós, se desejam percorrer o caminho. Porque diante de vós há um banco de névoa, que, por vezes, é o vosso próprio medo e, outras vezes, é a vossa natureza imóvel.

Cada tipo de névoa é um desafio diferente e uma lição para cada pessoa, em graus distintos. O que é que vos faz mais medo? Será o medo de ter êxito e o medo de encontrar o caminho do seu contrato? Será o medo da abundância? Talvez seja o medo da iluminação; talvez seja o medo de mudar.

Parábolas de Kryon

Cristina Gonçalves

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